Aconteceu na zona rural do município de Bertópolis, na região do Vale do Mucuri, o óbito de duas crianças indígenas da etnia Machacalis, sendo uma das mortes confirmada em decorrência da raiva. O menino de 12 anos, que foi picado por um morcego, deu entrada em um hospital de Teófilo Otoni, cerca de 10 dias após os primeiros sintomas da doença. Tendo vindo a óbito no dia 4 de abril. O outro caso, de uma menina também de 12 anos, está sob investigação. Minas Gerais não registrava óbito por raiva humana havia 10 anos. O último caso tinha acontecido em 2012, na cidade de Rio Casca.
A raiva é uma zoonose provocada por um vírus transmitido por mamíferos, que compromete o Sistema Nervoso Central, causa encefalite e pode levar à morte. A contaminação por raiva humana ocorre quando a pessoa é mordida, lambida ou mesmo arranhada por animais infectados, como gatos, cachorros e morcegos.
O médico veterinário Henrique Mendes, do Centro de Zoonoses de Governador Valadares, afirma que o ocorrido em Bertópolis foi um caso esporádico, e faz um alerta sobretudo para moradores da zona rural. “Vale ressaltar que na zona rural possui um grande número de morcegos, e alguns podem estar contaminados. A gente tem que ter muito cuidado e não manipular o morcego, porque a transmissão ocorre através de lambedura, mordedura e arranhadura. Caso a população encontre um animal caído, deve entrar em contato com o Centro de Zoonoses imediatamente. O ideal é cobri-lo com algum objeto, e esperar para que ele seja devidamente resgatado pelos profissionais especializados. O animal resgatado é enviado para o órgão responsável para fazer o teste de contaminação”, disse.
A vacina contra a raiva em pessoas deve ser administrada em situações em que haja ferimentos causados por animais que não foram imunizados.
Henrique alerta aos tutores de cães e gatos sobre as principais características da doença.
O Ministério da Saúde realiza anualmente a Campanha de Vacinação Antirrábica. “A gente recomenda que a população leve os pets para vacinar. Com a vacinação, a gente consegue fazer a chama barreira biológica, que é o controle. Na medicina a gente preconiza antecipar a doença”, ressalta o médico veterinário.
A última notificação de raiva humana em Valadares aconteceu na década de 90. De lá pra cá, apenas um caso de raiva em morcego foi confirmado.
Sobre a raiva
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o controle da raiva passa pela alta cobertura vacinal antirrábica canina e felina, durante uma sucessão de anos, reduzindo assim a incidência da raiva humana transmitida por cães e gatos. A mesma situação da redução da incidência da raiva humana ocorre no estado de Minas Gerais. Casos isolados da doença em humanos têm ocorrido de forma ocasional. Este ano, um adolescente morreu após ser mordido por morcego. Os dois últimos casos anteriores da doença em humanos ocorreram em 2006 e em 2012, transmitidos por um herbívoro e por um morcego, respectivamente.
A raiva é uma doença de notificação imediata, em 24 horas, conforme portaria ministerial. Com relação ao paciente suspeito de raiva, conforme Normas do Ministério da Saúde, todo paciente com quadro clínico sugestivo de encefalite, com antecedentes ou não de exposição à infecção pelo vírus rábico, é um caso suspeito e deve ser investigado.
Após um período extremamente variável de incubação, surgem os sinais e sintomas clínicos inespecíficos da raiva, que duram em média de dois a dez dias. Nessa fase, o paciente pode apresentar mal-estar geral, pequeno aumento de temperatura, anorexia, cefaleia, náuseas, dor de garganta, entorpecimento, irritabilidade, inquietude e sensação de angústia. Podem ocorrer também linfoadenopatia, hiperestesia e parestesia no trajeto de nervos periféricos, próximos ao local da mordedura, e alterações de comportamento.
O período de evolução do quadro clínico, depois de instalados os sinais e sintomas até o óbito, é em geral de dois a dez dias. Todos os casos confirmados de raiva humana em Minas Gerais evoluíram para óbito. Além da notificação obrigatória, qualquer caso de raiva humana e animal deve ser investigado, assim como identificação da fonte de infecção, busca ativa de pessoas sob exposição de risco ao vírus rábico, identificação das áreas de risco para a doença e realização de medidas de prevenção e controle conforme o caso.