Jovens valadarenses contam como conseguiram bolsas de estudos em universidades norte-americanas
Frequentemente nos deparamos com alguém que pensa em morar fora do país para trabalhar, estudar ou ter oportunidades no esporte. É fato que conseguir um lugar no esporte profissional no Brasil não é tão fácil, visto que o país ainda carece de valorização nesta área. Por isso, muitos estudantes dedicam-se a ganhar alguma bolsa de estudos em uma universidade no exterior, que geralmente possui programas esportivos e valoriza imensamente os atletas.
Apesar da vontade, ir para fora não é tão fácil quanto parece. Além de enfrentar desafios na imigração, existem barreiras como o idioma, a cultura, além da saudade da família e dos amigos.
Bruna Gonçalves, de 23 anos, joga tênis desde os seis anos de idade, e aos 16 já sonhava com uma bolsa de estudos no exterior. Com muito estudo, preparo e persistência, e graças ao seu bom desempenho no esporte, a atleta, que jogou por muito tempo na equipe de tênis do Filadélfia e foi treinada pelo técnico Marcelo Silva, conseguiu uma bolsa para cursar Engenharia Elétrica e Eletrônica na Norfolk State University (Universidade Estadual de Norfolk), no estado da Virgínia, nos Estados Unidos. Hoje, após cinco anos da sua ida para o país, já formada, ela concilia o mestrado na área de engenharia com a vida de atleta.
Segundo Bruna, seu processo de adaptação no país foi longo. Além de ter dificuldades com o novo idioma, a atleta sentia muita falta de casa. “Eu demorei cerca de dois anos para me adaptar. Quando cheguei aqui, eu falava apenas o básico do inglês. Foi difícil me comunicar, precisei estudar muito, muito mesmo. Mas esse não foi o meu maior problema. A maior dificuldade para mim é ficar longe dos meus pais, irmãos, amigos e da minha cultura.”
No entanto, a atleta conta que há coisas maravilhosas em viver em outro país, como as oportunidades e as amizades. “Os Estados Unidos são um país de primeiro mundo; aqui tenho um milhão de oportunidades. Eu me adaptei muito aos meus colegas do time, afinal, jogamos juntos e moramos juntos. Sou grata por poder viver novas experiências, aprender outro idioma e criar laços de amizade tão fortes.”
Bruna diz que está gostando muito, que encontrou as pessoas certas e faz elogios à estrutura do local. “Minha trajetória está sendo legal. Depois que me adaptei e encontrei as pessoas certas para me aconselhar, soube o que eu realmente quero e o que eu não quero. Atualmente, estou fazendo um mestrado com duração de três anos. Ainda fico boba com a estrutura daqui; nunca vou me acostumar. Os laboratórios da faculdade são impecáveis, os campos e quadras são imensos. Meu campo tem uma quadra de futebol americano com 30 mil lugares, coisas que você não acredita, apenas vendo.”
Mas a saudade ainda toma conta. A jovem diz que pretende visitar a família e os amigos no próximo mês. Além disso, ela conta que deseja voltar a morar no Brasil. “Sinto saudades todos os dias, ligo pra minha família e amigos várias vezes por semana. Estou sempre mantendo contato, além de visitá-los a cada seis meses. Faz um ano que não os vejo por causa da pandemia, mas vou vê-los no próximo mês. Também penso em voltar a morar no Brasil daqui uns 5 ou 6 anos, porque acho que, mesmo que aqui tenha muitas oportunidades, o Brasil tem suas qualidades”, desabafa.
Apesar das dificuldades, a jovem não se arrepende das escolhas que tomou. Ela ainda deixa um recado para quem quer seguir os mesmos passos dados por ela. “Apesar das dificuldades, eu faria de novo. Cresci e amadureci muito aqui. Amadureci como pessoa, como profissional, como estudante e atleta. Se você tem vontade de vir, lute por isso. Se vier pelo esporte, dedique-se 100% a isso. Caso venha por motivos acadêmicos, estude, estude de verdade. É preciso ter paciência, dar tempo ao tempo. Mas os resultados vêm, só dependem de você, e são gratificantes”, aconselha.
Já Carolina Martins Gomes é estudante de Gestão de Negócios e Marketing Minoritário da Western Illinois University, em Macomb, Illinois, também nos Estados Unidos. A atleta, que iniciou no futsal, pelo projeto “Meninas com brilho nos olhos”, gerenciado por Guilherme Frossard, aos seis anos de idade, vai se formar em 2022 e, até lá, joga futebol na posição de meio campo para a universidade.
Segundo Carolina, o desejo de estudar e jogar em outro país surgiu a partir da falta de estrutura na modalidade feminina no Brasil. ”Comecei no projeto ‘Meninas com brilho nos olhos’, que me apresentou a modalidade, e sou muito grata por isso. Infelizmente, o futebol feminino ainda não é muito valorizado no Brasil. Nos EUA esta modalidade é muito valorizada, com estrutura de outro nível, além de unir o ensino superior com o esporte. Aqui todos os atletas têm de estar na faculdade, o que não acontece no Brasil.”
A estudante-atleta diz que para chegar aonde chegou foi preciso muito estudo e muito preparo. “Comecei a estudar inglês em 2012 mas não sabia que resolveria ir para fora. Em 2016 decidi que queria estudar e jogar nos Estados Unidos, então comecei minha preparação mais intensa com minha professora. Foram um ano e alguns meses estudando firme para tirar notas boas nas provas do TOEFL e SAT (exames requeridos pelas instituições americanas). Eu diria que uma das partes mais estressantes foi a de realizar esses exames, pois a minha vida dependia das notas. Mas, com muita disciplina de estudo, deu tudo certo”, explica.
Carolina conta que os colegas brasileiros ajudaram no processo de adaptação. “Ter colegas brasileiros que também estudavam na mesma universidade fez esse processo ser mais tranquilo. As maiores dificuldades, eu diria, foram saber lidar com a saudade de casa, ter de resolver qualquer problema ou situação sozinha, sem ajuda dos pais, e me acostumar com o ritmo das aulas. E o mais fácil foi o futebol. Não tive dificuldade em me adaptar.”
Hoje, após mais de três anos no país, a jovem diz que lida melhor com a saudade de casa. “Consigo lidar melhor com essa saudade, pois já estou melhor adaptada ao país, tenho mais amigas e isso ajuda muito. Videochamada é a ferramenta. Ligo todos os dias pra minha casa e frequentemente para minhas amigas. Com a pandemia, eu decidi voltar para casa, em maio de 2020. Fiz um semestre online, de casa, e voltei para cá em dezembro, para o segundo semestre, que começou em janeiro. Agora estou de férias, de maio até agosto; porém, decidi ficar por aqui para jogar em imantada semiprofissional de verão”.
Diferente de Bruna, Carolina não deseja voltar a morar no Brasil. “Há benefícios em morar aqui, como a liberdade e a praticidade. Já visitei Nova York, Saint Louis, Chicago, Orlando e outras cidades sendo uma estudante universitária. Dificilmente no Brasil eu faria isso. Aqui você pode ir pra onde você quiser, pois é acessível a todos. Pretendo fazer um MBA aqui logo após minha graduação. Depois disso, não sei onde a vida irá me levar; porém, não pretendo voltar a morar no Brasil nos próximos anos”, confessa.
A jovem diz que é grata por estar vivendo seu sonho, além de estar aprendendo muito com o futebol. “Agradeço todos os dias pela oportunidade de morar fora, conhecer novos lugares, pessoas e poder jogar bola, que é o que eu sei fazer de melhor. Cada dia eu aprendo mais. Já conheci muitas pessoas diferentes e cada uma tem algo a acrescentar. A estrutura daqui é maravilhosa. Minha universidade tem tudo o que eu preciso, tanto em questão acadêmica quanto esportiva. Não posso reclamar de nada, só agradecer por estar vivendo isso que é um sonho. O futebol tem me ensinado muito. Sou uma pessoa muito mais centrada, madura e determinada do que quando cheguei. Também sou grata aos Estados Unidos por ter me dado tanto esportivamente, academicamente e na minha vida pessoal.”
Por fim, Carolina deixa um recado para os que desejam fazer intercâmbio por lá. “Vale muito a pena! Foi a melhor escolha da minha vida. Porém, requer muito esforço e disciplina. É preciso estar disposto(a) a perder noites com os amigos pra estudar/treinar, a perder momentos em família, como aniversários e feriados, e datas como Natal e ano novo, pra viver o teu sonho. Não é fácil; nada é. É importante ter humildade também pra começar de baixo e construir sua jornada em outro país sozinho(a). Porém, é muito recompensador”, finaliza.